jogo um jogo comigo mesma um jogo que me dê uma pista do que fazer: adivinhar qual trecho foi o gatilho que tiveram pra escrever aquele livro que me fez sentir vontade de escrever de novo. não um livro favorito, necessariamente, um parágrafo ou uma frase em especial; mas um livro, como há certos livros, que me deu nas entranhas um calor que subiu o corpo feito quando o canto da boca torce pra baixo ao mesmo tempo em que sorri, não necessariamente com a certeza de que vai acontecer, veja, mas a vontade, a vontade de. o parágrafo (genial) sobre as pessoas compartilharem muito mais fotos de cachorros desaparecidos do que de velhas desaparecidas ou talvez o capítulo sobre a viagem panorâmica de google street view sobre os cemitérios em busca de uma lápide específica, acho que era rosa essa. sabe, de onde veio? se algum dia lendo uma newsletter de notícias aleatórias curiosas engraçadinhas para tirar a gente da angústia de estar vivendo o fim do mundo enquanto preenche planilha se deparou um link que dizia que o google não fotografava cemitérios por medo de flagrar algum morto caminhando ou algum vivo profanando ou outra atitude da mais absoluta ordem do banal incompreensível, levemente tirada de prumo como quando somos sempre que estamos passando por este lugar — perto da morte (jamais em respeito à privacidade, é claro). ou se algum dia teve apenas que procurar ela mesma um corpo íntimo num túmulo distante. se bem que acho que isso provavelmente geraria apenas um poema com algum título como procurando túmulos distantes ou também enterram os mortos ali. ou só um trabalho extenso de pesquisa e imersão na personagem que demanda a construção de um livro brilhante a partir de uma ideia que por algum motivo lhe parecia cara, próxima, conhecida ou talvez até mesmo brilhante. qualquer coisa assim. ou se nada disso. ou se um dia apenas tomava café olhando pra página em branco entre um capítulo brilhante e outro do qual não gostava tanto assim pensando talvez aqui eu precisasse de uma curiosidade banal fincada na materialidade do nosso cotidiano imerso nessa tecnologia de mentirinha que parece nos afogar de possibilidades infinitas quando na verdade não nos permite nem procurar um corpo desaparecido lgpd, políticas de privacidade, as leis os autos a documentação, sumiram com todos os registros e até aquiles devolveu o corpo de heitor aprendi recentemente no livro de poesia. baita livro, aliás. ou uma manchete na televisãozinha do elevador apertada entre os cento e setenta eu acho caracteres para caber direito enquanto chama a atenção de quem mal sai de casa e qualquer notícia do mundo lá fora parece um grande acontecimento um pouco fora da realidade: google revê políticas de compartilhamento de imagens privadas. não, péra: google é processada por compartilhar imagens de cemitérios anotou no caderninho. eu duvido. ou se pesquisou, se foi atrás, se conheceu alguém que viveu o absurdo de ter que chegar ao ponto de ter que procurar uma lápide de tantas formas diferentes que em uma delas, por desespero, tédio ou intuição, digitou no google, ou se entrevistou com caderninho, gravador e anotações histórias tão parecidas de quem já não se lembrava mais com detalhes e costurou os retalhos mais coloridos de várias vidas diferentes pra criar uma nova, mais interessante e menos doída por ser inventada, talvez. um jogo que me dê pistas de por onde começar, algo assim, banal e curioso, um parágrafo um impulso inicial e o resto eu mesma faço.
*o livro existe mesmo e é o é sempre a hora da nossa morte amém, da mariana salomão carrara, brilhante a cada frase e desses que dá vontade de voltar a escrever também.
[…] é estranho como nenhuma palavra consegue dar conta do que está acontecendo. “catástrofe” parece desresponsabilizar quem tem contas a prestar. “desastre” insinua que a natureza chegou aqui sozinha. “colapso” é insuficiente quando 1.4 milhão de pessoas foram tão afetadas. o horror tem mesmo esse poder de devorar até as palavras.
— andré alves
🔴 para ajudar o rio grande do sul, da maneira que cada um pode: a lalai persson juntou nesse link muitas-muitas formas de doar, acompanhar, ajudar e fazer a sua parte. a gaía passarelli fez esse guia para quem está em são paulo e quer ajudar. lembrando que as agências dos correios de são paulo, santa catarina e paraná, além de algumas unidades do próprio rs, estão recebendo doações como água (prioridade no momento), alimentos de cesta básica, material de higiene pessoal e de limpeza e roupas de cama e de banho, além de ração para animais — separe direitinho e leve, é só levar: das 8 às 17h.
te entrego
trocar de pele, da priscila pacheco, bateu aqui no reconhecimento das tantas personagens que vão construindo a gente — e a dificuldade de desapegar das que já foram, será?
em tempos de gente de trinta anos sendo conservadora e moralista com a perfomance de putaria da madonna, um texto gostoso sobre existir confortável peladona e nossa relação (complexa) com o corpo, claro; da luciana nepomuceno.
algumas discussões sobre bebê rena que me ajudaram a entender porque eu fiquei tão
maisdesgraçada da cabeça com bebê rena foram fé nas malucas, da marie declercq; e gabb orroroooooza que roubou minha reflexão anterior e fez essa análise perfeita no tiktóxica;engraçado quenesse momento totalmente perdida no personagem uma das poucas coisas que tem verdadeiramente me emocionado é algo que eu nunca me detive com atenção: moda. talvez por preconceito, talvez por ser completamente fora de alcance de várias maneiras, mas eis que:voltei pra mamãe em mais uma temporada de rupaul's drag race, em que igualmente detestei a vencedora e mergulhei nos desafios de costura — posso ou não ter assinado outro streaming meu deus;
o documentário com a péssima tradução ascensão e queda (high & low é todo um conceito da moda, né gente, vamolá), do estilista john galliano, que além de trazer meu tema favorito de documentários “pessoas malucas equivocadas encantadoras geniais”, tem os vídeos dos desfiles, minha gente, os vídeos dos desfiles!!!! tem na mubi, outro streaming, socorro;
tem também o ótimo podcast clodovil do avesso, produzido pela elle brasil, mais um sobre uma pessoa maluca equivocada encantadora genial que fez tão parte da minha vida e que eu nunca tinha me atinado. tou adorando saber mais sobre essa história, com áudios da época e fofocas de amigues e desafetos, claro.
a série killing eve já tem quatro temporadas e eu sequer sabia que tinha feito sucesso; uma oportunidade maravilhosa pra babar litros iguais na sandra oh e nos figurinos maravilhosos, gigantescos, grifadíssimos da villanelle — se uma psicopata fosse, certamente uma estilosa eu seria;
tudo isso me deixou com bastante vontade de visitar três exposições sobre moda que, veja, eu nem sabia que eram uma coisa: arte na moda, no masp, 30 anos além da moda, do alexandre herchcovitch, no museu judaico, e efeito japão: moda em 15 atos, na japan house.
em sendo assim, venho diminuído drasticamente meu tempo de uso naquela desgraça do instagram, trocando a plataforma por uma outra peste perversa e bonita: o pinterest, graças a deus. vem aí uma nova personagem? veremos.
muitas vezes falamos sobre roupas como armaduras, mas na verdade elas abrem nosso coração. a sensação de acertar uma roupa é a mesma de sentir seu coração se expandindo. mais vulnerável e mais generoso do que vestir-se para se esconder. quando você é capaz de refletir uma versão de si mesmo que parece verdadeira em essência, chamo isso de spiritual twin-set [conjuntinho espiritual], quando o seu eu interior corresponde ao seu eu exterior.
— li esse trechinho de uma entrevista da leandra medine, a ex-man repeller, e achei de uma sensibilidade gostosinha. a tradução veio na newsletter chic da gisela gueiros.
Eu adoro esse seu jeito de escrever que parece o mesmo jeito de alguém falando coisas sem parar e linkando uma coisa - o corretor escreveu vodka não sei pq haha - na outra. (me identifico).Semana passada pensei em começar essa série com a eterna Cristina yang. tbm não me ligava mto em moda pelos mesmos motivos. Pinterest é beeeem mais legal!