1.
não precisa ser muito meu fã pra perceber que eu estou vivendo um daqueles momentos de conexão com algo maior. deve estar insuportável pra quem vê de fora. de perto também.
2.
a grande virada foi tirar dessa chave de algo maior: prefiro encarar como vários algozinhos (!) pequenos, cotidianos, sem aparições fantasmas ou revelações futurísticas. até porque eu sou a pessoa mais medrosa que você vai conhecer na sua vida.
3.
tem coisas que, claro, você nunca vai saber.
4.
tem coisas que eu também não.
5.
eu sempre soube, esperei e pode ser que tenha até desejado, sem revelações futurísticas ou profecias premonitórias, a chegada desse momento: da velha hippie desconectada do mundo real que as criancinhas amam e os adultos chamam de bruxa, ou o contrário. talvez ela tenha chegado antes do que eu imaginava. e eu ainda não estivesse tão pronta assim. talvez ela tenha vindo me avisar.
6.
cortei meus cabelos que nunca estiveram tão longos na vida adulta. reforçavam a personagem metade a frankie da lily tomlin, metade totalmente a patti smith. cortei porque senti que o mundo corporativo estava me obrigando, mas foi mentira. cortei porque ouvi que estava parecida demais com quem eu sempre disse que nunca seria e com quem eu sempre temi que nunca seria. parecida demais com quem eu sempre odiei não ser e aparentemente já era. pelo menos posso reclamar disso: das opressões do capitalismo, do patriarcado, das pressões estéticas, das modas do tik tok, das fotos de referência com inteligência artificial do pinterest, da elite cultural paulistana.
mais fácil que sustentar que eu mesma cortei porque quis.
e paguei o mesmo preço que elas pagam.
não falo figurativamente: R$ 420.
7.
vai crescer. de novo. é o mesmo cabelo da isadora adolescente que não via a hora de virar uma velha bruxa, ou uma roqueira famosa, ou as duas coisas. e xingar o mundo corporativo e o patriarcado, embora eu nem soubesse o que eram essas coisas, como elas já sabiam tão profundamente em seus projetos experimentais de escolas construtivistas.
também ouvi durante um tempão que era cabelo de puta. de maria madalena.
que não combinava com o meu tamanho.
8.
outra coisa que não combina: a fluoxetina. os inibidores seletivos de recaptação de serotonina. chato demais estar medicada, não tá no pack da personagem que advoga em favor das plantas e dos fungos. não sei se subestimei a derrocada do capitalismo ou se superestimei as possibilidades de existência da velha bruxa que foi uma adolescente deprimida (agora eu sei), porém brilhante.
9.
tem vantagens, estar medicada. me fez:
a. parar de espernear na superfície. controlar a respiração.
b. voltar a escrever.
c. enxergar com mais clareza o que é real (e o que não é também).
d. voltar a me olhar no espelho. assustei um tanto.
e. sonhar, e não é um clichê bocó: agora eu sonho toda noite, e com as coisas mais absurdas. acordo cansada, várias vezes gargalhando!
10.
aparentemente a depressão não me deixava mais chorar; agora eu choro.
11.
*emoji chorando*
12.
e as desvantagens, puts.
13.
já disse em voz alta, mais de uma vez: perdi meus super poderes.
14.
comecei a estudar tarô esses dias. sozinha mesmo, o que sempre me soa igualmente assustador e um absurdo. das bruxarias todas, foi a que eu sempre me permiti, já que parecia inofensiva, lúdica e bom, um jogo: não exatamente algo que dependesse de fé, mais de sorte, probabilidades e alguém tomando decisões por mim ao menos uma vez na vida adulta.
15.
que coisa bonita que é o tarô, cê já notou? cartas bonitas, desenhos bonitos, decks bonitos com laterais brilhantes e estilizadas, toda uma estética em abrir, separar, escolher. e as toalhinhas? aprendendo tarô sozinha, descobri esses dias que cada carta é pensada nos detalhes mais ridículos, repleta de imagens escondidas, símbolos e outros caminhos escusos. tem um lance de saber de cor cada carta e cinco ou seis palavras que a define quando numa leitura, mas tem outro tão importante quanto: o da interpretação. tudo importa: personagens, expressões, cenários, cores, dobras de roupas, bichos, flores e plantas, posições dos braços, número de dedos, objetos místicos ou banais, coisas que parecem números, números que parecem símbolos, a história de cada uma dessas tralhas ao longo dos tempos e como a fez chegar até ali. se a carta olha pra frente ou pra trás.
16.
pra estudar eu faço assim: sento no sol, no canto do sofá, embaralho e tiro uma carta, todo dia de manhã. vejo o que tem ali pra mim e anoto. só depois vou atrás do que falaram nos dois livros que eu — claro — já comprei. e comparo. ganho uma estrela se bate — claro —, mas também rio sozinha quando passa longe. passo o resto do dia procurando pelos sinais, tão claros.
17.
cê já viu como fica bonita uma oferenda?
claro, esse mês, o mês do agora-vai, da organização, dos planos em listas calendários e cronogramas para essa newsletter, da empolgação que eu não sentia há tempos, da luz no fim do túnel, justo esse mês, veio a vida e me atropelou (de novo), então saiu só isso aqui: uma desculpa pra não deixar de escrever.
eu achei que ninguém ia ler esse tipo de texto, lista ou seilácomochama, mas então vocês amaram. o anterior foi o grande sucesso de público e crítica e eu decidi fazer disso outra seção, um inventário, parte da minha bagunça organizada. divirtam-se!
É sempre muito bom te ler, amiga! Em formato de lista ou não, sempre bom ler Isadoraaaa
adoro sua espontaneidade! <3 adorei a lista.