nasci num sábado, e isso diz muito.
(é o que eu quero acreditar)
quarta-feira sempre foi meu dia favorito na semana, desde pequena, daí não me lembro o motivo. na adolescência eram as aulas de teatro: na verdade, o dia inteiro que passava na escola, do começo ao fim fora de casa. as aulas tinham uma ordem específica — vou mentir se digo que lembro, mas era uma mistura fina entre as que eu brilhava e aquelas em que gostava, mais do que deveria, do professor. não me vem ninguém à mente agora, só a sensação quente no corpo de estar chamando atenção.
quarta-feira era o dia do teatro, chegava em casa só à noite. teve a fase da touca colorida, botava todo meu cabelo (gigante, cheio, enorme) lá dentro. dizia que era pelo calor, mas a verdade é que queria ter algo só pra mim. que olhassem pra mim por algo que eu tinha escolhido, ao menos dessa vez. tinha aquela obrigação de falar ao telefone com a minha avó que nunca soube quem foi: imagina, ter que explicar tudo isso. dizia que tudo bem, sim, e você.
carrego comigo essa coisa das quartas, quase quinta, praticamente sábado; o meio do da semana como um descanso, um dia pra mim. o absurdo que é ter reunião de quarta-feira, vocês já pararam pra pensar? quarta-feira rego as plantas de casa, todas as várias, converso com elas, damos risada e lembro da vó wanda, mais que nos outros dias — a que eu sei quem é, nitidamente, temos o mesmo imenso nariz e vontades de cantoras do rádio.
como explicar minha ideia de siesta de um dia inteiro pro capitalismo? imagina. na minha semana ideal, trabalharíamos segundas e terças com empenho; quartas seriam como um dia opcional, de se acordar tarde, dedicar às plantas, newsletters e outros projetos pessoais, ir ao cartório resolver alguma burocracia, compras as frutas da semana e, se sobrar tempo, responder um ou outro e-mail. ninguém mais usa e-mail, outro absurdo. seguiríamos às quintas e aí já quase sexta e sábado novamente.
uma grande amiga tem a palavra manhãs tatuada na mão, em espanhol, o que deixa tudo imediatamente mais ensolarado. gosto especialmente das manhãs às quartas e aos sábados.
em espanhol, aliás, sábanas são lençóis. sábanas los sabados.
pra mim os dias da semana sempre tiveram cor, pra vocês também? quartas-feiras são laranja; quintas, verde, mas um verde quente, amarelado; sextas são daquele azul indo pro roxo. sábado é dia de festa, tem confete y serpentina. mesmo na incoerência de chover, sábado tem sempre brilho.
o que mais que não existe que tem cor?
escrevi tudo numa sentada — em uma quarta-feira — e meu teclado está quebrado, devo ter trocado uns acentos. depois, hoje, na quinta, fui pesquisar. nada demais no quarto dia da semana, mas aqui mora o segredo: o dia de mercúrio, que se desdobra em mércores, miércoles, mercoledì e mercredi. bem mais bonito. me lembra melancolia não sei porque; mas uma delas alegre, alaranjada. quente. pra igreja com letra maiúscula, é o dia de rezar pelos enfermos; mas pros países nórdicos, não que eu ligue muito, quartas são também “pequenos sábados”; ou seja (agora eu ligo), um “dia de bebida”.
em japonês, a palavra para quarta-feira significa “dia da água”, associada ao nome de mercúrio, o planeta, que e, de forma literal, é “estrela d'água”.
aparentemente tem tambem uma gíria que diz que quarta-feira é uma pessoa sonsa, alguém que demora pra entender as coisas. funciona pra mim.
minha quinta-feira é azul puro e a quarta, vermelha.
adorei a listinha!
manhãs ensolaradas de quárbado ❤️